Dopamina: Ciclo vicioso do prazer
22 de agosto de 2018A dopamina é uma catecolamina com estrutura química muito parecida com a adrenalina. O sistema dopaminérgico está envolvido em diferentes quadros patológicos como a esquizofrenia e o mal de Parkinson. Os primeiros psicofármacos (substâncias químicas utilizadas para o tratamento de doenças psiquiátricas) a serem utilizados tinham como mecanismo de ação bloquear os receptores celulares responsáveis por responder à dopamina. Diminuindo a atividade da dopamina, o uso destas substâncias diminuí substancialmente os sintomas das psicoses. Já na doença de Parkinson, é a diminuição da dopamina que é responsável pela dificuldade que os pacientes que apresentam em iniciar movimentos e produzir controle adequado sobre deles.
Com certeza é um sistema muito importante para guiar nosso comportamento automático, mas desastroso para a maioria das decisões comportamentais que implicam em retardar ganhos e recompensas em prol de um resultado melhor no futuro. A razão disso é que este sistema surge para selecionar o que é melhor para nós em termos adaptativos. Entre algo com grande valor calórico como uma fruta suculenta e outro alimento como uma cenoura, o sistema dopaminérgico terá aprendido a escolher a fruta suculenta a partir de experiências anteriores com aqueles dois alimentos que mostraram que a fruta poderia trazer mais vantagem nutricional do que a cenoura.
A maioria dos vícios que podemos desenvolver estão relacionados à liberação de dopamina a que estes comportamentos estão associados. Assim, o uso de drogas psicoativas como cocaína, maconha, álcool e nicotina são fortemente indutoras de comportamentos viciosos porque o seu uso está diretamente relacionado a uma expressiva liberação de dopamina. Outros comportamentos como abusos alimentares, sexuais e jogos como baralho ou videogames também estão fortemente relacionados à dopamina já que toda forma de obtenção de prazer, recompensa e alívio são potencialmente capazes de liberar esta poderosa catecolamina.
Também é a dopamina que nos ajuda a selecionar nossa atenção para coisas mais interessantes e tendencia nossas escolhas na direção de coisas que podem trazer mais recompensas e prazeres do que outras. Infelizmente, o sistema dopaminérgico não consegue associar escolhas que trazem bons resultados a longo prazo. Assim, este sistema acaba atendendo muito mais suas necessidades imediatas e não ajuda muito no cumprimento de suas decisões de fim de ano.
Neurocientista, consultora e palestrante. É especialista na aplicação dos conhecimentos neurocientíficos no ambiente corporativo e na educação de todos os níveis. Tem atuado especialmente em programas de diversidade no ambiente corporativo fomentando a equidade.